which formulates would be it to recommence


Um comentário:

  1. O TEMPO DE ACABAR
    Por que nos recusamos a admitir o final de um caso?

    FÁBIO HERNANDEZ (Revista VIP)

    Nós não soubemos acabar. Isso hoje é claro para mim e, imagino, para você. Nós não soubemos acabar. Acabamos muito depois do que teria sido razoável. Acabamos não quando havia uma construção da qual nos lembrarmos e sim quando já não restava nada mais que ruínas que evocavam sofrimento e pesar numa dosagem desnecessariamente elevada. Existe um tempo para iniciar e existe um tempo para terminar. Errar no tempo para terminar é muito pior do que errar no tempo para começar. Num caso, logo compensamos as alegrias ainda não gozadas. No outro, é irreparável a dor que advém do prolongamento vão do que deveria ter sido encerrado lá atrás.

    Nós não soubemos acabar.

    Pôr fim a uma relação amorosa é uma arte tão desafiadora quanto tocar com graça uma flauta. A covardia nos detém muitas vezes. Outras vezes, o desfecho é adiado por uma última, ou penúltima, ou antepenúltima, lufada de esperança. E há ocasiões em que nossa ação é impedida apenas por uma inércia para a qual não encontramos e nem buscamos explicação. Sei lá. Talvez nas escolas devesse haver uma disciplina que nos ensinasse a terminar uma história de amor. Nos ensinam álgebra e geografias remotas nas escolas, mas não nos ensinam coisas básicas da vida, como identificar o final de um caso e agir.

    Nós não soubemos acabar.

    O fim em geral é claro, apenas a gente finge que não vê. Onde havia antes compreensão e tolerância, ergue-se a impaciência. Onde havia antes generosidade, ergue-se um rigor por vezes cruel. Onde havia antes ternura, ergue-se uma crescente grosseria. Onde havia antes disposição para dividir, ergue-se o egoísmo. O que foi amor virou desamor. Os fatos gritam. Mas as pessoas fingem não ouvi-los. Fingem muitas vezes demasiadamente além do aceitável. E então sofrem bem mais do que o necessário.

    Nós não soubemos acabar.

    Existe o momento justo para o fim. Pena que na maior parte das vezes a gente só o enxergue depois. Semanas, meses, às vezes anos depois. Nós mesmos. Nosso final foi naquela noite. Naquela noite exata. E no entanto quantas centenas de noites passamos juntos depois. Naquela noite, e você sabe melhor do que eu qual foi, alguma coisa se rompeu. Para sempre, como que presos num carro desgovernado. Os primeiros berros dados por uma parte e admitidos pela outra. A primeira agressão sofrida e tolerada. Nosso amor morreu naquela noite. Nada poderia salvá-lo. Recapitular aquela noite chega a ser irônico. Glória e miséria misturadas. Talvez o melhor sexo que tivemos. Se não fosse o clichê, eu escreveria que foi um sexo selvagem. Gemidos de prazer e de raiva, berros de gozo e de ódio. Os lábios se alternando neuroticamente entre insultos e beijos desesperados. Chegamos ao ponto mais alto e ao ponto mais baixo naquela noite. Vivemos ao mesmo tempo o amor eterno e a fugacidade das paixões. Aquela noite nos resumiu e nos encerrou. Mas só percebemos isso muito depois. Aquele beijo. Bem que poderia ter sido o último. Teríamos triunfado. A última vez em que tivemos alguma chance de escapar da derrota foi naquela noite. Depois dela estávamos derrotados e apenas carregamos os restos de nós dois.

    Nós não soubemos acabar.

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